Soluções à vista
Existem já algumas medidas identificadas para evitar que as aves marinhas morram em artes de pesca, tais como linhas espantadoras e dispositivos para afundar os aparelhos mais rapidamente. Mas o sucesso destas medidas vai depender da localização geográfica, do comportamento das aves marinhas e até da forma de operar dos pescadores. Por isso é muito importante testar estas medidas nos locais onde serão implementadas.
No MedAves Pesca estamos a testar duas medidas diferentes totalmente inovadoras. Para poder analisar em pormenor se estas medidas funcionam ou não, os técnicos da SPEA vão embarcar e acompanhar de perto os testes no mar. |
Todos os testes incluem sempre uma arte de pesca experimental (com a medida de mitigação) e uma arte de pesca controlo (sem medida de mitigação) para poder comparar os resultados.
Para perceber se as medidas influenciam a pescaria, vão ser analisados dados socioeconómicos tais como o custo de implementação da medida, as descargas em lota e eventuais problemas de operacionalização. O envolvimento dos mestres de pesca e tripulações nos testes é fundamental para o sucesso do projeto. |
Luzes sinalizadoras
em redes de emalhar
As redes de emalhar são praticamente invisíveis para as aves debaixo de água, por isso é preciso sinalizar a sua presença, de forma a que as aves as consigam evitar. Vão ser usadas lâmpadas led que quando submersas emitem uma luz verde, que sinaliza a rede de pesca. As luzes são protegidas por um involucro em borracha que é fixo à linha madre da rede de 10 em 10 metros. Metade da caça terá luzes (experimental) e a outra metade não (controlo). A emissão de luz é acionada pela salinidade da água do mar prolongando assim o tempo de vida das baterias.
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Ficha técnica da medida de mitigação
Papagaio afugentador
No palangre e redes de emalhar estão a ser testados dispositivos afugentadores em forma de ave de rapina. O objetivo é que as aves, na suposta presença de um predador não se aproximem da arte de pesca e assim não fiquem presas nos anzóis. No caso das redes de emalhar, o papagaio é fixo à embarcação e no palangre, os papagaios ficam presos às bóias sinalizadoras.
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Ficha técnica da medida de mitigação no palangre
Ficha técnica da medida de mitigação em redes de emalhar
Desenhos técnicos das artes de pesca
Outras soluções
Linhas de espantamento de aves
Consiste em colocar um cabo, simples ou duplo, com fitas coloridas penduradas por cima do local de largada do palangre ou na zona de alagem das redes. É uma medida simples e eficaz. Isco pintado Coloração do isco de forma a torna-lo menos visível na água e consequentemente menos detetado pelas aves. |
Principais resultados
O papagaio afugentador revelou-se uma medida eficaz em embarcações a operar redes de emalhar. A sua presença provou uma redução significativa do número de aves a interagirem com a embarcação, reduzindo assim a probabilidade das aves serem capturadas durante a largada das redes. Destaca-se esta alteração comportamental no caso dos alcatrazes, gaivotas e pardelas baleares.
São excelentes notícias: esta medida barata e relativamente simples de usar pode vir a contribuir de forma significativa para a conservação das aves marinhas nas Berlengas! No caso do papagaio afugentador na pesca de palangre, registou-se uma menor taxa de capturas acidentais de aves marinhas nos eventos com o papagaio colocado nas boias. No entanto esta redução não foi significativa do ponto de vista estatístico. A natureza esporádica das capturas acidentais é um fator limitante que obriga a um esforço de amostragem muito elevado. O papagaio foi muito bem aceite pelos pescadores que se mostraram dispostos a continuar a utilizar o dispositivo após o termino do projeto, referindo que reduz a captura de aves, poupando tempo e dinheiro, é fácil de usar e não afeta as suas capturas de pescado. Relativamente às luzes sinalizadoras testadas em redes de emalhar, os resultados foram inconclusivos. Não se registaram diferenças nas capturas com e sem luzes nas redes e no caso de uma das embarcações, a captura de 3 galhetas nas redes com luzes levanta algumas questões. A ecologia alimentar desta espécie e a sua forma de procura de alimento pode fazer com que o feixe de luz verde seja confundido com uma presa em movimento e acabe por atrair a ave à rede, em vez do contrário. Naturalmente, os pescadores não se mostraram recetivos à utilização desta medida apontando para além da sua ineficácia alguns constrangimentos tais como a durabilidade dos materiais utilizados. Pode consultar o relatório final do projeto aqui. No âmbito de uma das Ações deste projeto foi efetuada uma Análise de risco da captura acidental de aves marinhas nas 5 Zonas de Proteção Especial (ZPE) de Portugal Continental: Aveiro/Nazaré, Ilhas Berlengas, Cabo Raso, Cabo Espichel e Costa Sudoeste. Com base na modelação de dados de censos marinhos obtiveram-se mapas de distribuição e valores de abundância das 6 espécies mais abundantes de aves marinhas que ocorrem dentro das ZPE, a cagarra, a pardela-balear, o alcatraz, a gaivota-de-patas-amarelas a gaivota-d’asa-escura e a torda mergulheira. Depois estes dados foram sobrepostos espacialmente à distribuição das áreas de pesca utilizadas por embarcações com comprimento superior a 15m a operar arrasto, cerco, redes de emalhar, tresmalho e palangre. Pode consultar o relatório aqui. |